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Mensagens

A mostrar mensagens de 2018

Paul Simon - "Graceland" (MK & KC Lights Remix)

"Graceland" (1986) é capaz de ser o melhor álbum de Paul Simon. Mas "Graceland - The Remixes" (2018) é capaz de ser melhor que o álbum de Simon.

Brad Meldhau - After Bach

O grande rock sinfónico nunca escondeu que plagiava Bach, mas o jazz parecia ser menos devedor do genial compositor alemão. Afinal, o mais recente álbum do virtuoso Meldhau demonstra que não é bem assim. Com alguma ousadia, Meldhau interpreta e logo em seguida reinventa, a partir dos cânones do jazz, várias peças de Bach. Muito interessante, para as tardes de chuva, que, infelizmente, não têm faltado.

Superorganism - Superorganism

Dizem que é a next big thing da pop mundial. Dizem isso de quase todos a toda a hora. Mas o projeto Superorganism tem qualquer coisa de facto. Para começar, junta uma miúda japonesa de 17 anos, duas vocalistas neozelandesas e uma banda indie de alguns créditos, os The Eversons, num total de oito membros. Depois, assenta num processo criativo baseado no Skype e nos encontros durante as tournés dos The Eversons. E depois ainda, e mais importante, produz um som novo e distinto, cheio de ironia e referências críticas, mas sem ter de ser pomposo e enfadonho. A mise-en-scéne também ajuda e demonstra que, no universo da pop contemporânea, os olhos também ouvem. Toda a gente os cita, de rappers a dj's. Toda a gente se oferece para produzir e para o indispensável ft. numa ou noutra faixa. Mas o álbum de estreia, auto-intitulado, não precisa de mais ninguém. Já tem seis singles, destacando-se o superorelhudo "Everybody Wants to be Famous", e, em boa verdade, quase todas as fa

John Barry, "Indecent Proposal Theme"

Depois de vos ter revelado a importância que tem a banda sonora de Merry Christmas, Mr. Lawrence para a minha sanidade mental, fiquei a pensar que o filme que está na sua origem não me diz nada. Vi-o, nem sei bem quando, e nunca mais pensei nele. Julgo que até o achei enfadonho e um pouco incómodo. Já com a banda sonora foi diferente. Acontece-me muito. Filmes marcantes com más bandas sonoras e, ainda mais frequentemente, filmes banais ou mesmo maus com grandes bandas sonoras. É esse o caso de "Proposta Indecente", de Adrian Lyne (1993), com Robert Redford e Demi Moore. O filme é ridículo. A banda sonora, particularmente a sua componente instrumental, é brutal! Nem sequer consigo imaginar como é que John Barry resolveu aceitar musicar um filme em que um milionário paga um milhão de dólares para passar a noite com a mulher de um coitado de um arquitecto, mas ainda bem que o fez, porque criou uma cenário musical belíssimo e justificou, por si só, o dinheiro que investira

Ryuichi Sakamoto, "Merry Christmas Mr. Lawrence"

Na banda sonora de uma vida não pode faltar o Natal de Mr. Lawrence. Sempre que um homem quiser.

Bahamas, "Way with Words"

Há sempre uma canção para todo e qualquer estado de espírito. Sobretudo para dizer aquilo que não queremos ou não sabemos como dizer. Em quase todas as áreas e circunstâncias da nossa vida. "Way with words" é uma canção sobre dificuldades de comunicação. Sobre mal-entendidos e manipulação das palavras. Quase todas as crises são, de alguma forma, crises de comunicação. Desabafar através da música é das formas mais tranquilizadoras de desabafar. I won't protest but I won't be the same 'Cause I'm the only one who has my name

Entradas Novas - Especial Suécia

Esta semana, as entradas novas são todas da Suécia. Aliás, a música produzida naquele país escandinavo dava um blog, extenso e diversificado, tal é a riqueza e a variedade do panorama musical sueco e mesmo escandinavo em geral. Curioso é que, ao contrário do que diriam alguns de imediato, por impulso, a culpa não é do mercado, mas sim do Estado, já que as políticas de fomento e promoção da cultura na Suécia são assumidamente estatizadas, dirigidas por agências especializadas e repletas de sucesso. Hoje falaremos de Lykke Li e da superbanda Liv, mas poderíamos falar de Avicii, José Gonzalez, Robyn, The Hives, Peter Bjorn and John, Little Dragon, Icona Pop, Miike Snow, Swedish House Mafia, Tove Lo, e muitos outros... 1. Lykke Li, "Time in a Bottle" O regresso da cantora sueca é um cover de Jim Croce, mas podia perfeitamente ser um novo original. A marca sonora e narrativa de Li está lá, arranhando as palavras, invariavelmente trágica, mas ao mesmo tempo inocente. Não

Playlist "À Lareira"

Fica desde já o reconhecimento da culpa. Sim, as minhas playlists são incoerentes; uma espécie de patchwork musical - mas é assim que eu gosto delas. Não é só a busca do eclético. É sobretudo a forma como a minha mente musical (presunçoso!) está organizada. Ouço música com a pele e a pele, como nós sabemos, é dos órgãos mais difíceis de controlar pelo cérebro. Por isso, o elo condutor é quase sempre um sentimento, um ambiente, uma imagem, que provavelmente dirá sempre muito mais a mim do que àqueles que possam ouvir a música que juntei. Esta é para estes dias de chuva, frio e necessidade de conforto. É para estar à frente da lareira (ou de um sucedâneo) a pensar nas coisas que realmente importam na vida - o amor, em todas as suas formas, as convicções, a busca da felicidade e, no meu caso, um bom vinho tinto. Por exemplo, o piano de "To Build a Home", dos Cinematic Orchestra, é conforto e proteção. A voz, áspera e negra, de Johnny Cash é a melancolia atada à consciênc

Entradas Novas

Às sextas, haverá música nova no Blog de Uma Nota Só, aproveitando a esperança típica do início dos fins-de-semana. 1. Para começar, o regresso de Janelle Monáe , reencarnando Prince em "Make Me Feel". O som é todo Paisley Park, com uma atualizaçãozinha para as gerações que não fazem ideia a que soava Prince. Seria um avanço muito promissor do álbum previsto para Abril, não fora o lançamento, quase em simultâneo, de outro single, "Django Jane", que é "só" a Monáe do costume - ainda que a letra mereça uma cuidada análise e mais não digo... só ouvindo, sem preconceitos. 2. Depois, para algo completamente diferente: Half Waif . Parece mais um projeto indie armado ao melodramático, mas a trama sonora é muito bem trabalhada, além de ser de um enorme bom gosto. compensado a voz irritante de Nandi  Rose Plunkett, a senhora que faz tudo no projeto, e o pretensiosismo da letra, que até fala em "collective bodies"... A ouvir com uns bons headphone

Frank Ocean, "Moon River"

Para aqueles que ainda não sabem, colecciono covers e este é absolutamente imperdível. Ocean é um génio. "Moon River" é uma grande canção. Juntos são arrasadores.  

Filhos

As canções sobre parentalidade são quase sempre cliché, quase sempre azuis ou cor-de-rosa, quase sempre melosas. Se pensarmos bem, sentir a alegria descontrolada de gerar vida e o medo e a responsabilidade quase insuportáveis de responder o resto da vida pela vida de outrem, não são sensações fáceis de traduzir em letra e música. Cat Stevens, espertalhão, utilizou o estratagema narrativo do diálogo, no clássico "Father and Son", e criou uma das mais belas canções sobre pais e filhos da história da música pop. O problema é que se tornou a citação mais óbvia. Por isso, para celebrar o nascimento do André, o meu quarto filho, e com ele, o dos irmãos Gonçalo, Afonso e Amélia, escolhi "Gracie", de Ben Folds, que apesar de ser sobre a filha, tem um texto sem género, que se adequa a todos os filhos de todos os pais. Esta é à vossa, filhos!      You can't fool me, I saw you when you came out  You got your momma's taste but you got my mouth  And

MGMT - Little Dark Age

O Tiago Ribeiro já me tinha dito, mas eu, com a mania de que não há álbum como o primeiro, nunca mais gostei de nenhum disco dos MGMT desde 'Oracular Spectacular'. Porque prezo muito a opinião musical do Tiago, decidi dar uma margem de três audições integrais a "Little Dark Age" e fazer de conta de que se trata do primeiro álbum de uma banda nova. Ainda não sei se o Tiago tem razão. O novo dos MGMT é, a espaços, muito bonito, mas também é chato e confuso. Ainda tenho muitas dúvidas de que seja o regresso em definitivo depois de umas viagens mal conseguidas à estratosfera psicadélica. Estão incomodados com a tirania dos telemóveis e das redes sociais, e não gostam da Administração Trump. Ok, admito que isso possa funcionar do ponto de vista criativo, mas não percebo muito bem o tom geral da coisa.  Segundo os próprios, as chaves do álbum estão em canções como "TSLMP" ou "Days that Got Away", mas eu aposto tudo em "James", or

Playlist S. Valentim

O calendário determinou que a primeira playlist do Blog de uma Nota Só fosse dedicada à música romântica, ainda assim numa interpretação muito ampla. Confesso que comecei por pensar numa coisa revivalista, com slows dos anos 80, assim entre o soft rock e o lamechas mesmo. Mas não é esse o espírito da coisa. Neste espaço até o amor cantado é eclético. Vai daí, acabou por vingar uma miscelânia, que vai de um dueto do novo álbum de Justin Timberlake a uma versão bluesy da grande Etta James, passando por Childish Gambino ou por uma cena hype como os The Sneakers. São 20 variações à volta da difícil tarefa de fazer música para celebrar o amor (e outras coisas com as quais o amor se confunde...).

Two Feet, "Love is a Bitch"

É quase um facto. As grandes canções de amor são sobre corações partidos, relações falhadas e amores impossíveis. "Love is a Bitch" é isso mesmo, um hino ao desamor, narrado por um amante que insiste em amar sozinho, mesmo sabendo que nunca será correspondido. Sofrer de amor é quase reconfortante. É verdade que Two Feet é um rapaz nova-iorquino de pouco mais de 20 anos e que isso explica muita coisa. A maturidade está, porém, na confecção do som, no deslizar da guitarra por cima do sintetizador quase soturno, e menos, muito menos, na lírica dolorida de quem não se importa de sofrer por amor.  Se calhar, em vésperas do Dia de Namorados, pedia-se um amor incondicional. Até lá ainda temos tempo. Por agora, fica a versão melodramática.  

Rhye - Blood

Não se deve escrever sobre Rhye. Porque é só de sentir e só se sente quando se ouve. E mesmo assim há quem não sinta e não goste. De duo passaram a projeto de um homem só, mas a alma melódica e o bom gosto continuam lá, neste segundo álbum, sobretudo em "Song for You ", "Softly" e neste "Taste", que chega a ser uma maneira funky de ser depressivo, que se quer dançar com os olhos fechados. "Blood" é melhor que que "Woman", o primeiro álbum. É muito mais articulado, mais trabalhado, com tudo no sítio, sem deixar de provocar aquela sensação de que se está perante uma coisa nova, estimulante e antes nunca ouvida. Obrigatório para quem ainda não desistiu de querer salvar a música pop.

Primeiro Dia de Vida

O primeiro dia de vida de um blog não precisa de ser uma ocasião solene, mas, sendo este um espaço exclusivamente dedicado à música, merece uma banda sonora que funcione como uma declaração de princípios. Daí este "First Day of My Life", em que Conor Oberst canta "juro que nasci à saída da porta". Este é um blog que nasceu de um (como se diz agora) "burn out" das redes sociais. Depois de todas as polémicas, barbaridades, insultos e falsas notícias, resta a música e o que dela podemos retirar. Aqui não há feeds inundados de trolls, preces à virgem Maria, anúncios selecionados por algoritmos ou vídeos de senhoras gordas que tropeçam junto a piscinas de borracha, nos quintais dos subúrbios de Louisville, Kentucky. Partimos da música e com ela vamos aonde tiver de ser. Não trabalhamos com filtros. O momento, o contexto, a disposição e, por vezes, os recursos, tão simplesmente, serão as únicas condicionantes. Não trabalhamos com calendário. O tempo é