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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2018

Playlist "À Lareira"

Fica desde já o reconhecimento da culpa. Sim, as minhas playlists são incoerentes; uma espécie de patchwork musical - mas é assim que eu gosto delas. Não é só a busca do eclético. É sobretudo a forma como a minha mente musical (presunçoso!) está organizada. Ouço música com a pele e a pele, como nós sabemos, é dos órgãos mais difíceis de controlar pelo cérebro. Por isso, o elo condutor é quase sempre um sentimento, um ambiente, uma imagem, que provavelmente dirá sempre muito mais a mim do que àqueles que possam ouvir a música que juntei. Esta é para estes dias de chuva, frio e necessidade de conforto. É para estar à frente da lareira (ou de um sucedâneo) a pensar nas coisas que realmente importam na vida - o amor, em todas as suas formas, as convicções, a busca da felicidade e, no meu caso, um bom vinho tinto. Por exemplo, o piano de "To Build a Home", dos Cinematic Orchestra, é conforto e proteção. A voz, áspera e negra, de Johnny Cash é a melancolia atada à consciênc

Entradas Novas

Às sextas, haverá música nova no Blog de Uma Nota Só, aproveitando a esperança típica do início dos fins-de-semana. 1. Para começar, o regresso de Janelle Monáe , reencarnando Prince em "Make Me Feel". O som é todo Paisley Park, com uma atualizaçãozinha para as gerações que não fazem ideia a que soava Prince. Seria um avanço muito promissor do álbum previsto para Abril, não fora o lançamento, quase em simultâneo, de outro single, "Django Jane", que é "só" a Monáe do costume - ainda que a letra mereça uma cuidada análise e mais não digo... só ouvindo, sem preconceitos. 2. Depois, para algo completamente diferente: Half Waif . Parece mais um projeto indie armado ao melodramático, mas a trama sonora é muito bem trabalhada, além de ser de um enorme bom gosto. compensado a voz irritante de Nandi  Rose Plunkett, a senhora que faz tudo no projeto, e o pretensiosismo da letra, que até fala em "collective bodies"... A ouvir com uns bons headphone

Frank Ocean, "Moon River"

Para aqueles que ainda não sabem, colecciono covers e este é absolutamente imperdível. Ocean é um génio. "Moon River" é uma grande canção. Juntos são arrasadores.  

Filhos

As canções sobre parentalidade são quase sempre cliché, quase sempre azuis ou cor-de-rosa, quase sempre melosas. Se pensarmos bem, sentir a alegria descontrolada de gerar vida e o medo e a responsabilidade quase insuportáveis de responder o resto da vida pela vida de outrem, não são sensações fáceis de traduzir em letra e música. Cat Stevens, espertalhão, utilizou o estratagema narrativo do diálogo, no clássico "Father and Son", e criou uma das mais belas canções sobre pais e filhos da história da música pop. O problema é que se tornou a citação mais óbvia. Por isso, para celebrar o nascimento do André, o meu quarto filho, e com ele, o dos irmãos Gonçalo, Afonso e Amélia, escolhi "Gracie", de Ben Folds, que apesar de ser sobre a filha, tem um texto sem género, que se adequa a todos os filhos de todos os pais. Esta é à vossa, filhos!      You can't fool me, I saw you when you came out  You got your momma's taste but you got my mouth  And

MGMT - Little Dark Age

O Tiago Ribeiro já me tinha dito, mas eu, com a mania de que não há álbum como o primeiro, nunca mais gostei de nenhum disco dos MGMT desde 'Oracular Spectacular'. Porque prezo muito a opinião musical do Tiago, decidi dar uma margem de três audições integrais a "Little Dark Age" e fazer de conta de que se trata do primeiro álbum de uma banda nova. Ainda não sei se o Tiago tem razão. O novo dos MGMT é, a espaços, muito bonito, mas também é chato e confuso. Ainda tenho muitas dúvidas de que seja o regresso em definitivo depois de umas viagens mal conseguidas à estratosfera psicadélica. Estão incomodados com a tirania dos telemóveis e das redes sociais, e não gostam da Administração Trump. Ok, admito que isso possa funcionar do ponto de vista criativo, mas não percebo muito bem o tom geral da coisa.  Segundo os próprios, as chaves do álbum estão em canções como "TSLMP" ou "Days that Got Away", mas eu aposto tudo em "James", or

Playlist S. Valentim

O calendário determinou que a primeira playlist do Blog de uma Nota Só fosse dedicada à música romântica, ainda assim numa interpretação muito ampla. Confesso que comecei por pensar numa coisa revivalista, com slows dos anos 80, assim entre o soft rock e o lamechas mesmo. Mas não é esse o espírito da coisa. Neste espaço até o amor cantado é eclético. Vai daí, acabou por vingar uma miscelânia, que vai de um dueto do novo álbum de Justin Timberlake a uma versão bluesy da grande Etta James, passando por Childish Gambino ou por uma cena hype como os The Sneakers. São 20 variações à volta da difícil tarefa de fazer música para celebrar o amor (e outras coisas com as quais o amor se confunde...).

Two Feet, "Love is a Bitch"

É quase um facto. As grandes canções de amor são sobre corações partidos, relações falhadas e amores impossíveis. "Love is a Bitch" é isso mesmo, um hino ao desamor, narrado por um amante que insiste em amar sozinho, mesmo sabendo que nunca será correspondido. Sofrer de amor é quase reconfortante. É verdade que Two Feet é um rapaz nova-iorquino de pouco mais de 20 anos e que isso explica muita coisa. A maturidade está, porém, na confecção do som, no deslizar da guitarra por cima do sintetizador quase soturno, e menos, muito menos, na lírica dolorida de quem não se importa de sofrer por amor.  Se calhar, em vésperas do Dia de Namorados, pedia-se um amor incondicional. Até lá ainda temos tempo. Por agora, fica a versão melodramática.  

Rhye - Blood

Não se deve escrever sobre Rhye. Porque é só de sentir e só se sente quando se ouve. E mesmo assim há quem não sinta e não goste. De duo passaram a projeto de um homem só, mas a alma melódica e o bom gosto continuam lá, neste segundo álbum, sobretudo em "Song for You ", "Softly" e neste "Taste", que chega a ser uma maneira funky de ser depressivo, que se quer dançar com os olhos fechados. "Blood" é melhor que que "Woman", o primeiro álbum. É muito mais articulado, mais trabalhado, com tudo no sítio, sem deixar de provocar aquela sensação de que se está perante uma coisa nova, estimulante e antes nunca ouvida. Obrigatório para quem ainda não desistiu de querer salvar a música pop.

Primeiro Dia de Vida

O primeiro dia de vida de um blog não precisa de ser uma ocasião solene, mas, sendo este um espaço exclusivamente dedicado à música, merece uma banda sonora que funcione como uma declaração de princípios. Daí este "First Day of My Life", em que Conor Oberst canta "juro que nasci à saída da porta". Este é um blog que nasceu de um (como se diz agora) "burn out" das redes sociais. Depois de todas as polémicas, barbaridades, insultos e falsas notícias, resta a música e o que dela podemos retirar. Aqui não há feeds inundados de trolls, preces à virgem Maria, anúncios selecionados por algoritmos ou vídeos de senhoras gordas que tropeçam junto a piscinas de borracha, nos quintais dos subúrbios de Louisville, Kentucky. Partimos da música e com ela vamos aonde tiver de ser. Não trabalhamos com filtros. O momento, o contexto, a disposição e, por vezes, os recursos, tão simplesmente, serão as únicas condicionantes. Não trabalhamos com calendário. O tempo é